Aos 16 anos, o baiano Angel Davi Barbosa Fonseca vive uma experiência que poucos atletas tão jovens já viveram. Ele deixou o Brasil para morar em Portugal, onde atua na categoria de base do Esposende Basket Clube, e recentemente comemorou o título de um campeonato sub-16, a Taça ABBraga. A conquista no exterior é resultado de uma caminhada que começou de maneira inusitada, em plena pandemia, e foi lapidada nas quadras do IEM (Instituto Edu Mariano).
Angel deu seus primeiros passos no basquete durante as aulas de Educação Física online em 2020, quando o Brasil enfrentava o isolamento da pandemia. “O professor explicava as regras, falava o que era o basquete… até então, eu não sabia nada. Nunca procurei saber. Eu só tinha feito capoeira e artes marciais”, conta.
A paixão pela bola laranja começou a crescer em 2021, com a influência das redes sociais e da NBA. “Era a época em que o Golden State Warriors estava ganhando tudo, e o Instagram só mostrava vídeo do Curry arremessando do outro lado da quadra e acertando. Isso despertou uma vontade a mais de jogar”.
Foi na rua, em frente à casa de uma tia, que o jovem teve seu primeiro contato físico com o jogo. Sem estrutura ou experiência, ele e outros jovens jogavam só por diversão. “Pedi uma bola para o meu pai, e ele comprou uma bem básica. Eu ia todos os dias para a quadra. Cinco da manhã, antes da escola, e depois, das duas da tarde até de noite. Só treinava arremesso”, relembra o jovem, que passou a praticar em um espaço do bairro Tancredo Neves.
O interesse se transformou em dedicação. Angel, junto de colegas, começou a organizar campeonatos escolares para ensinar fundamentos a crianças e adolescentes. Posteriormente, acabou conhecendo o IEM. A entrada no instituto foi quase por acaso.
Durante um treino informal com amigos, ele se aproximou da comissão e pediu para mostrar suas habilidades. Fez alguns dribles, arremessos e disputou alguns duelos. O desempenho chamou a atenção de Edu Mariano e do professor Amon Brito Moreira e, dias depois, passou a participar oficialmente das aulas.
“No instituto, eu aprendi bastante coisa, como usar mais a mão esquerda, ter visão de jogo, mentalidade de atleta. Foram treinos intensos, mas me ajudaram muito. Aprendi jogadas, exercícios coletivos e tive meus primeiros treinadores de verdade, o Edu e o professor Amon”, explica Angel.
O ambiente no IEM também foi importante para sua formação pessoal. “Lá, você vive como atleta dentro e fora de quadra. Aprendi sobre respeito, esforço, amizade e disciplina. Isso me ajudou a crescer como jogador e como pessoa. O Amon, o Edu e o Marcelo me marcaram muito”.
Até por isso, a relação com os colegas e professores se manteve forte mesmo após a mudança para Portugal. “Eles ficaram muito felizes com minha conquista aqui. Me deram parabéns, disseram que eu merecia. É bom ver que, mesmo do outro lado do mundo, tenho esse apoio.”
A mudança para a Europa aconteceu por decisão da família, motivada principalmente pela busca por segurança e melhores oportunidades. “Salvador estava muito perigoso, especialmente o bairro onde eu morava. Meus pais sempre pensaram no melhor para a gente, tanto na segurança quanto nos estudos. E vir para cá foi uma forma de buscar um futuro melhor”, explica.
Logo ao chegar em Portugal, Angel visitou o Esposende Basket Clube e foi convidado a mostrar seu basquete. Seu desempenho defensivo, agilidade e capacidade de arremessar de longa distância chamaram a atenção dos técnicos.
“Aqui, o basquete é de outro nível. Mesmo nas categorias de base, o estilo de jogo é muito diferente. Foi difícil me adaptar, porque o calendário é diferente também. Mas quando você quer, você consegue. Estou conseguindo me adaptar e aprendendo muito”.
Com o sonho de seguir evoluindo como atleta, Angel segue sua jornada com dedicação e gratidão. “Tudo começou lá atrás, com uma bola simples e muita vontade. Hoje estou aqui, jogando em outro país, mas com os pés firmes no que aprendi lá no início. E sigo com a mesma vontade de sempre”.
Admiração
Professor de basquete no Instituto Edu Mariano, Amon Brito Moreira se lembra com carinho da trajetória de Angel Davi nas quadras da capital baiana. “O Angel é um grande menino, muito dedicado e educado. Chegou até nós por meio da família, que entrou em contato comigo. Dei todas as orientações para que ele pudesse participar do projeto, e logo ele estava integrado aos treinos”, contou o professor, que acompanhou de perto o desenvolvimento do atleta.
Segundo Amon, desde o início jovem demonstrava aptidão para o esporte. “Ele já sabia um pouco de basquete, e a gente foi lapidando. Ele se interessava, se dedicava a cada dia. Foi muito bom trabalhar com ele, porque ele tem essa garra, essa força de vontade, esse foco. Um menino centrado, calado, mas sempre fazendo tudo com muita atenção e no tempo certo”.
Amon se recorda que o jovem baiano chegou ao projeto em meio à preparação para o campeonato estadual de base e, mesmo tendo entrado depois, se destacou rapidamente. “Infelizmente, ele não chegou a disputar o campeonato porque sua família precisou se mudar para Portugal, numa busca por melhores condições. Mas ele saiu deixando sua marca”, detalhou o professor.
Com orgulho, Amon celebra a conquista internacional do ex-aluno. “Fico muito feliz por ele. Estava conversando com o professor Marcelo agora mesmo, e a gente está muito grato por ele ter lembrado da gente. Isso mostra que ele carrega bons princípios e que ainda tem muito a brilhar. Parabéns, Angel. Continue sendo esse menino brilhante que você é. Deus continue te abençoando”, concluiu.
Realização
O projeto Basquete Mania, realizado pelo IEM (Instituto Edu Mariano) com patrocínio do sportv, é viabilizado por meio da Lei de Incentivo ao Esporte do Governo Federal. Atualmente, conta com quatro núcleos ativos em Salvador, promovendo o acesso à educação por meio da prática esportiva e contribuindo diretamente para o desenvolvimento de jovens talentos como Angel Davi.